29 Abril 2020
Por Tiago Manuel Rego
Presidente da FNAJ
Associativismo juvenil: escola de cidadania
Todos os anos, em abril, celebra-se o Dia do Associativismo Jovem, uma efeméride que devemos sempre assinalar para evidenciar a iniciativa e participação da juventude que se organiza em associações juvenis para mudar o mundo. De geração em geração, o movimento associativo juvenil reinventa-se para dar resposta às necessidades, objetivos e interesses dos jovens, recalcando a ideia de que estes vivem alheados e desligados das suas comunidades.
A intervenção dos jovens na sociedade é comumente posta em causa e apontada como deficitária ou desajustada. Porventura, os novos modos de agir da juventude, suportados pelas ferramentas da sua era, provocam alguma desconfiança aos mais velhos, que retiram credibilidade a essas formas “estranhas” de ação. Foi, assim, quando os jovens transformaram as tertúlias de café em conversas de Facebook, nas quais se dizem coisas mais acertadas, outras menos, tal e qual aconteciam nas tertúlias queirosianas. Porém, hoje, os mais velhos, reconhecendo já a sua importância, invadiram estas plataformas e fazem delas espaços de ativismo e de partilha de opiniões sobre o país e o mundo.
É baseada nesta incompreensão inicial da forma de estar das gerações nativas digitais, que as de mais gerações não lhes reconhecem à priori a dita capacidade de intervenção que se quer da juventude, sempre adjetivada, por simpatia, de irreverente e rebelde, como se bastasse ser jovem para ser possuidor de tais predicados. Contudo, tudo isto é uma narrativa com muitos séculos e chegará o tempo da minha geração cair nesta afirmação já dita por filósofos da Grécia Antiga.
De facto, exigimos sempre dos que vêm depois de nós um espírito crítico aguçado, mas, ao mesmo tempo, subsiste a dificuldade de lhes darmos as oportunidades para eles o exercerem, recorrendo à falta da experiência de vida como critério, que só está ao alcance dos que já viveram mais. Assim, fica difícil. Porém, como ninguém é insubstituível, independentemente de bons desempenhos, só saberemos se alguém poderá fazer melhor ou igual no dia em que os que lá estão criarem a oportunidade para que tal aconteça. É um risco que teremos sempre de correr, na certeza que uma geração propicia à que lhe sucederá todas as ferramentas pedagógicas para que esta a supere e faça a humanidade evoluir.
Mas há formas de acelerarmos a dita experiência, enunciada por muitos, como determinante para os cargos de responsabilidade e decisão. Esses espaços de experimentalismo e criatividade são as associações juvenis, através das quais os jovens participam de forma democrática, inclusiva e plural na gestão de projetos em prole de um coletivo, criando estruturas inovadoras e geradoras de impacto social.
Atualmente, nas associações juvenis, o desafio da igualdade de oportunidades, das alterações climáticas e da era digital, são o motor de ação de uma juventude preocupada com a justiça intergeracional e pela crença que a diversidade não deve ser tolerada, mas sim celebrada. São muitas as associações que desenvolvem iniciativas em prol destas causas. Por todo país, vários dirigentes associativos e jovens voluntários, empoderam-se, capacitam-se e intervêm diariamente nas suas comunidades de forma abnegada e altruísta, defendendo o princípio inerente ao associativismo juvenil de que não mudamos o mundo apenas olhando para ele, mas sim pela forma que escolhemos viver nele. E é com base neste dogma que trabalhamos sempre, com o intuito de reforçar a democracia e na certeza de que esta funciona melhor quando todos participamos, seja à moda antiga ou moderna.